sábado, 17 de janeiro de 2009

Ladrões de Alma

Existem milhares de coisas que a razão humana não consegue explicar, e dentre elas um questionamento não sai da minha cabeça: Como pode ser?

Passei minutos que se transformaram em horas, depois foram dias, meses e hoje anos, anos que essa azucrinante pergunta me corroe.

Se algum dia eu amei alguém hoje não sei dizer, acho que amei mais a ilusão de amar do que a razão de sentir.

Interessante como quando estamos inebriados pela ilusão de amar acreditamos piamente no ser amado e vociferamos dentro de nossas almas mantras como: Se eu tivesse que apostar em alguém eu apostaria nele! Se eu tivesse que confiar cegamente em alguém eu confiaria nele! Se eu tivesse que dar a alma a alguém eu a daria a ele! Se eu tivesse que me despir de todos os ideais e de minhas rígidas regras de honra, lealdade e compaixão, eu me despiria por ele! Queimaria todos os meus navios só para vê-lo navegar no mar da felicidade.

Daí, de uma hora para outra, tudo acaba, a aposta foi perdida a alma linchada e o sentimento que antes era resplandecente e sagrado, torna-se pecado mortal.

Se eu tivesse a capacidade de ver além de tudo isso e conseguisse encontrar a resposta a essa singela pergunta que me corroe, acho que eu me depararia com outra pergunta: Como pôde? E se a resposta a esta pergunta viesse como que num milagre eu me perguntaria: Por que assim, tão desonrosa despedida?Um tempo falsificado, um adeus sórdido, um desprezo sem precedentes a alguém que dividiu tantos anos com outro alguém... O disfarce, a ilusão, o engodo, a depressão, o desespero, a falta de respeito, a falta de lealdade que deve, precipuamente, reger as relações de cunho moral.

Os dias vividos e esperados, a solidão, o gosto amargo da derrota, o triste silêncio que se fez em tão curto espaço de tempo e que devassa a alma daqueles que têm em suas mentes perguntas tão impossíveis de serem respondidas.

Dizem que o tempo, inexoramente, tem o condão de curar qualquer ferida ou dor, mas será mesmo que ele pode curar tamanho rasgo na alma? Será que em algum momento da vida essas perguntas não mais terão sentido, haja vista a resposta não ser mais necessária? Ou pode ser que um anjo piedoso sopre o sopro dos justos e aquiete a alma daqueles que já perderam as forças e passaram as mais tristes humilhações?

As pessoas têm muitas formas para agir em determinada situação, mas quase nunca escolhem a melhor forma de dizer adeus. O adeus é dolorido para quem vai e mais ainda para quem fica, quem vai, vai buscar outra vida, mas lhe dói ter que largar a vida de outrora, quem fica, fica preso na vida que tinha e implora todos os dias para que sua vida seja devolvida.

Me indago mais uma vez: Como pode ser? Foi por demais desonroso, por demais dolorido, por demais insensível! Ou será que não foi? Será que foi a melhor forma? Provavelmente sim...Hoje sentimentos indesejáveis habitam minha alma: engodo, engano, trapaça, 171, exploração, vergonha, medo, solidão, fracasso, humilhação, desprezo, mentiras...

Descobri que não sou tão nobre quanto achei que fosse, também posso fazer mais mal do que bem. Tive a desagradável surpresa da descoberta de minhas fraquezas, meus traumas não curados e meus temores mais sombrios vindo a tona nesse mar de desencontros.

Se eu pudesse escolher, nunca teria escolhido o caminho que segui, mas na maioria das vezes são nossos fantasmas que ditam qual estrada de tijolos amarelos iremos seguir.

Ver alguém partir é quase tão dolorido quanto ver chegar. Chegada inesperada, partida anunciada por lágrimas e solidão.
Existem pessoas que vêm às nossas vidas só para levar um pouco da vida dos nossos olhos, um pouco da chama da vida que arde em nossas entranhas. Pessoas que te marcam muito na chegada e te destroem na partida. Pessoas que te arrasam só para lhe ensinar que a vida é curta, assim como curto lhe parece o tempo que com tanto amor foram divididos com aqueles que hoje denomino "ladrões de alma" ou "devoradores de sonhos".
Esses seres místicos, por serem místicos na realidade não encontram lugar nesse mundo, só encontram lugar no mundo dos sonhos, e lá habitam até o último suspiro do ser que eles roubaram a alma...
PS: A figura ao lado é foto de um quadro pintado por mim o qual leva o mesmo nome do texto, ambos inspirados em uma garrafa de vinho e uma dor crônica na alma.

5 comentários:

Andrea (luaazul_) disse...

"Ladrões de Alma"

Só a expressão já achei extremamente profunda, o texto então, acho que nem tem muito o que ser dito ou acrescentado.

Adorei o texto e a imagem :)
lindos.

no disse...

Adorei o texto, o quandro então, MARAVILHOSO.
Estou impressionada.

Unknown disse...

Nossa, Ana, adorei seu texto e fiquei com muita vontade de ver seus outros quadros, hein?

Além disso, posso te dizer que seu texto me remete demais a sentimentos que estou vivenciando de uma recente mal-resolvida e nebulosa relação.

Beijo,
Débora

Unknown disse...

Ana,
A Débora aí, sou eu:
a Hallwass rsrs

bjoo!

Anônimo disse...

o quadro ficou ótimo