terça-feira, 14 de julho de 2009

Somos! Somos?


Dizem por aí que o ser humano é um ser bio-psico-social. Às vezes me pergunto qual dessas esferas é a mais complicada de todas, o biológico fugindo ao nosso controle? O psicológico nos controlando? Ou o social nos saturando e nos faltando. Sempre nos influenciando - em atos, pensamentos ou sentimentos.

Somos um conjunto orgânico, de variáveis ambientais, físicas, emocionais, situacionais, comportamentais, culturais, que por mais que tentemos sempre nos dão a volta até percebermos quão insignificantes podemos ser em determinados momentos.

Sentimo-nos cheios e vazios. Seguros e indecisos. Fortes e exaustos. Esperançosos e pessimistas. E ao mesmo tempo que a instabilidade aniquila, também nos traz a capacidade extraordinária de se rever e se reerguer todos os dias.

Queremos estar sós, queremos estar junto. Não sabemos o que queremos. Pensamos demais em coisas de menos. Sentimos pouco o que ocorre muito e nos incomodamos com detalhes supérfluos que nos atrapalham consideravelmente - mais pelo incomodo presenciado do que pelo que realmente representam em nosso dia a dia.

Julgamos e não queremos ser julgados. Não entendemos e queremos ser compreendidos. Repreendemos e queremos ser aceitos.

Somos complexos de tão simples. E tão perdidos por sermos tão complexos.
Somos humanos.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Crônica das memórias de Minas





Ai, que saudade daquele tempo em que a gente morria de amor e não de atropelamento... Ai, que saudade do contento de um bolo fumegante de fubá, simplório e realista, que agradava qualquer paladar! Aquilo sim, calava os subúrbios escuros da mente da criança chorosa que acabara de tomar um sopapo estúpido do velho que fedia a álcool e a suor.
Tomávamos muito café desde pequenos, aquele cheiro vinha com o brinde de um beijo de avó, que parece pedir perdão ao neto pelo pecado de seu filho triste e bruto.
Os cães cegos da rua Álvares de Azevedo cheiravam o chão à procura de restos de lixo com os ouvidos atentos aos automóveis velhos que por vezes passavam rente às suas silhuetas magras. Os vizinhos escaldavam os gatos, belas criaturas que passeavam nos telhados, que morriam nus, sem pêlo, com as retinas opacas e as bocas abertas como que em sede.
Odiava quando minha mãe metia a tesoura no meu cabelo, logo um cabelo tão delicado, castanho e fino que escorria na face, caía pelo chão, podada, a única e suave determinante da identidade feminina da criança. Talvez por isso eu gostasse tanto daquele vestidinho vermelho (e único) e da sapatilhas gastas de correr.
Nada era melhor que estojo novo de canetinhas coloridas e o cheiro do papel recém saído do Xerox para a mesa da sala de aula. Quem tinha fome, não reclamava da canjica da Dona Tereza, cozinheira da cantina, mãe de muitas bocas, e de outras suas, noturnas, que mal alimentava em sua casa. Minha mãe era professora, e eu era igual a todas as crianças.
Cachorro, galinha, marreco, vaca e cavalo. Férias nos cafundós do pobre Judas, móveis coloniais com couro gasto, à noite telas de mosquiteiros e som de radinho à pilha, eu escovava os dentes com a escova da minha prima que sabia tudo sobre os bichos e as proezas da natureza com seus olhos profundos acostumados ao silêncio bucólico.
Presente muito caro de tia era a medalhinha finíssima de Nossa Senhora folheada a ouro. Os três reis magos entrando com violas adornadas com fitas coloridas e flores na casa da avó materna religiosa, prendas, orações e comida farta, ninguém conseguiu explicar até hoje aquele cheiro forte de rosas quando a imagem da Nossa Senhora da rosa Mística foi levada ao centro da sala da matriarca, viúva quando ainda nova, com a prole de onze filhos. Dizia ser a sua santa protetora.
Retalhos macios unidos num cozer perfeito de coloridos geométricos, colcha que dava sono pelo seu cheiro de limpeza, já tantas vezes lavada, e pelo cheiro familiar próprio das coisas que se compartilham numa casa de família grande. Todos os meus primos eram meus irmão, e eram tantos os filhos, que todos os adultos eram pais e mães de todos nós e, como apanhava-se menos dos pais dos outros do que dos nossos, aprontávamos em dobro.
(continua...)

quarta-feira, 29 de abril de 2009

De que serve a vida se não para ser vivida? - uma breve reflexão sentida sem sentido talvez.

Já não importa tanto o que passou. As feridas já não jorram e os cortes aos poucos fecham-se. Os hematomas verdes, roxos, escuros, clareiam e não deixam marcas.

O medo do abismo se transforma na ânsia pelo que está por vir e não mais no remorso do que passou.

E que venha a cavalaria! Meu escudo é firme e minha armadura leve, porém forte.

Meu grito pode ser ouvido a milhas de distância e meu silêncio sentido por toda a imensidão do espaço.

Minha presença é meu cartão de visita, e as palavras são conseqüências de quem eu sou. Pois o que se fala nem sempre é compreendido ou bem explícito. Mas o que se percebe transborda ao corpo em alma revelada ou segredos escondidos.

A tristeza, antiga companheira, sai de férias e não faz falta. Há tanto outros companheiros prontos a dividirem sua atenção que permito-me conhecê-los melhor.

Viver, não é necessário um manual para isso, e mesmo que pareça meio tarde para essa percepção, sempre é cedo para se ter satisfação.

Então que o leite derramado seja limpo e o pano lavado até não sobrar seu cheiro podre. E que possa-se então sentir o cheiro úmido do sereno, com as cores do nascer do sol, e o sorriso da criança perdida e reencontrada.

E que todos possam de alguma maneira entender estas palavras, mas não como eu as escrevo, mas para si mesmos. E que de algum modo, descubram como viver a vida porque ela não nos deixa. Nós quem a deixamos.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Corre Lua, corre...


Corre Lua, corre... mas não se esqueça de equilibrar
Corre Lua, corre, mesmo sem saber aonde irá
A paisagem fica para trás, o vento leva seu respirar
Não há muito o que apreciar
O tempo não permite parar
Corre Lua, corre, se cair deve levantar
Corre Lua, corre... em algum lugar deve chegar

29.04.2006


Há muito tempo escrevi esses versos para mim. Hoje encontro-me na mesma sensação. Tantas horas passando diante de mim, tantas coisas para resolver, comemorar, viver. Parece que as 24 horas do dia não são suficientes para viver a vida como deveria. Mas ao mesmo tempo, se houvessem mais horas no dia, a certeza me grita que seriam mais horas corridas.

A sociedade louca criou um ritmo e estilo de vida desenfreado em vários sentidos. Precisamos de mais e mais tempo, cada vez mais. Você trabalha, estuda, está sempre se atualizando e há quem no meio dessa rotina exigida pelo melhor desempenho e capacidade, ainda encontre tempo para relaxar.

Difícil visualisar isso. Tempo. Relaxar. Aos poucos as pessoas desaprendem a parar, e assim, quando param logo procuram algo para se ocupar. Começam então os vícios. Um mal atual e crescente em uma sociedade desesperada por um forma - fácil, prática, instantânea - de satisfação, de prazer.

Outras caem no desespero do vazio de não saber como organizar sua vida, seu tempo, sem ficar para trás. O automático entra no dia a dia como um hóspede sem data de partida, e o dia a dia vira uma rotina imutável. Os imprevistos tornam-se pesadelos devastadores que perseguem a todos.

As relações humanas esfriam e a concorrência ganha peso. A balança desiquilibrada de uma vida aos trancos e barrancos aumentam as salas de espera de consultórios psiquiátricos e psicológicos.

Busca-se paz, compreensão, satisfação, contato humano, suporte, tempo!

É aí que eu entro.

Ajudar, ensinar, dar suporte... Desmistificar. Eu diria permitir as pessoas reaprenderem a falar consigo, com seu tempo, com seu limite. Esquece-se o que é bom, ou melhor, esquece-se de como o bom é bom. Vira segunda, terceiro, quarto plano na vida, até que deixa de fazer parte da vida. E as pessoas nem lembram mais a última vez que foram ao cinema.

Onde nossa sociedade vai parar?
Atualmente ela passa isso às crianças, na escola, no esporte, no francês, no inglês, na aula particular, no reforço, no dever, no ter que... e onde fica o lúdico, o poder, o parar, o brincar?

Desde cedo educamos a serem o que nos tornamos e do que no fundo, queremos fugir...
Mas se nós damos conta, por que elas não dariam?

Melhor eu parar por aqui. Já gastei muito tempo escrevendo, e você aí do outro lado, lendo.

terça-feira, 31 de março de 2009

Zelig



Agora eu vou sair de trás do filósofo e falar a verdade:
Eu era feliz quando não achava que precisava comprar um carro;
Eu era feliz, quando acreditava na arte que eu fazia, e já não faço;
Era feliz quando tinha mais amigos envolvidos com arte e não com o emprego público;
Eu era feliz quando saía com estes amigos com15 reais e bebia pra cacete no bar do Brás;
Eu era feliz quando não me importava de não ter celular;
Era feliz quando não me importava tanto com a minha aparência;
Quando eu não tinha medo de envelhecer;
Eu era feliz quando tinha medo de morrer, tinha medo porque eu era feliz;
Eu era feliz quando não tomava tantos anti-
depressivos.
Agora o mundo me engoliu, está me digerindo no estômago pútrido da Capital Federal onde multidões de Zeligs estão atormentando minha existência.
Afinal quem são vocês, Zeligs de Brasília? Peace and love o cacete... De tanto se moldar, se adequar a verve e a inteligência vão esvaindo. Eu me assusto com a rapidez com que as pessoas mudam de opinião, de gosto, de caráter, de humor. Zeligs loucos, depravação de personalidade!
Eu preciso sair dessa cidade e viver meu sonho que soa tão estúpido aos ouvidos de quem não quer ouvir.
Será que as pessoas estão tão destituídas de senso crítico, de critérios para barrar o ridículo de suas vidas, que a má mídia e a opinião alheia (alheia à tudo) influenciem tanto seu comportamento?
Cada vez mais as propagandas me causam terror. O apelo sexual, o apelo ao humor grotesco e à supremacia da imbecilidade onde tem gente (juro que não é exagero) que se encantam pela proposta de propagandas que afirmam que carro é chamariz de top model , que o álcool tem papel de inclusor social e iogurte pra prisão de ventre trás uma felicidade contagiante para as mulheres.
Você é o seu celular, seu carro, a marca da sua roupa, seu piercing, seu cargo. Você acha que você é isso? Eu não.
Que bosta de vida é essa?
Eu não quero um apartamento em Águas Claras, não quero me matar pra comprar um carro do ano, não quero gasolina, etiqueta, restaurante, moda, aliança, filhos, celular, carteira assinada, reputação, reconhecimento, gratidão, Domingão do Faustão, manicure, pedicure, terapeuta, internet wireless, etc...
Eu voltei para essa droga de cidade para tentar estudar, arrumar um estágio e pagar uma quit. Não consegui arrumar um estágio, nem emprego e por conseqüência, fiquei sem a quit.
Pode me chamar de perdedora, foda-se. Não dá para ter uma vida simples em Brasília, é preciso muito dinheiro pra tudo. Levava uma vida simples, me fodi por causa disso, não me adaptei. Sou ambiciosa, mas as minhas ambições são outras, o dinheiro deveria ser conseqüência dessas conquistas.
Eu sou egoísta mesmo, quero fazer o que eu gosto, trabalhar no que eu quero, se não der, trabalhar por um ganho justo já que teria de fazer o que eu não gosto, nunca deixar de estudar, morar com meus amigos em Minas, em um lugar onde eu consiga pagar (o convite é tentador), ouvi-los ensaiar suas músicas no “quarto-estúdio”, comer o que tiver, tomar cerveja barata, poder ir andando à pé à padaria, escrever, pintar, ler e estudar canto nas horas livres e ser a pessoa mais feliz deste mundo.
Eu sei o quanto isso pode soar pueril ou imaturo, mas é verdade, a minha verdade, não acredito em verdades absolutas que não sejam as das equações matemáticas..
Estou puta da vida.
A pessoa que amo nem sequer tem a pretensão de algo parecido, tudo deve ter grande segurança e planejamento envolver dinheiro e tempo demais, eu nem sei onde eu entro nesses planos, eu só sei que o tempo não tem preço, que a juventude não volta e a velhice não vai dar troco. Por conta disso, sigo por aqui mesmo tentando transformar tripa de calango em quitute culinário requintado, só não sei até quando vou agüentar.
O tempo é a coisa mais preciosa do mundo, e eu não quero ter essa morte em vida.

domingo, 29 de março de 2009

O mundo em que vivemos e o mundo no qual gostaríamos de viver...


Não existe um mundo perfeito. Podemos até idealizar, mas quando menos esperamos, a realidade bate à nossa porta.
Trilhamos caminhos diferentes aos quais sonhamos na infância. Isso não quer dizer que sejam piores ou que não nos realizem, são apenas diferentes. Às vezes, por não serem como imaginados, não nos permitimos ver quão bom são. Apegamo-nos tanto ao que não temos e ao que queremos, que simplesmente não percebemos o que é possível e o que realmente nos satisfaz.

O ser humano tem essa característica intrínseca de desejar sempre mais, uma falta que nunca se completa. Ao não sentir-se totalmente realizado, como conseqüência , talvez por ignorância, talvez por comodismo, talvez por incapacidade, começa a responsabilizar o externo por suas dificuldades e seus projetos não realizados. Com isso, muitas vezes não percebe suas conquistas e prazeres, pois as expectativas estão muito acima do que é possível concretizar. Seu foco torna-se o que não possui, ao invés do que o completa. Assim, acredita que a responsabilidade disso vem de fora e não de si mesmo.

Não, não acho que devamos esperar menos, sonhar baixo ou desejar pouco. Mas sim, acho que devemos além de buscar nossas expectativas, também vivenciar o aqui e agora. Permitir-se lambuzar-se ao saborear as conquistas realizadas. Sem pressa. Vivenciar o momento o quanto for possível e preciso. Desejar, mas permitir-se satirfazer-se.

Faz parte abrir mão de coisas por outras, e se isso é visto por muitos como um problema, uma subordinação, ou infelicidade; eu vejo como uma troca. Há escolhas que fazemos em prol de uma maior satisfação ou de alguns benefícios. O difícil talvez seja mediar esse processo. Permitir-se aceitar ou trocar sem esvaziar-se, sem ultrapassar seus limites e sem sentir-se preso,enjaulado.

A tendência é começar a culpar a vida e os outros por nossas submissões, sem perceber que nós mesmos entramos na jaula e jogamos a chave fora. Isentamo-nos de qualquer responsabilidade sobre nosso destino e não percebemos que sofremos diariamente por nossas próprias escolhas e medos.

Precisamos olhar para dentro de nós e desvendar quais escolhas deixamos de tomar que nos deixaram tão domesticados a ponto da vida parecer sem sentido. Quais atitudes nos assustam tanto que preferimos colocar na mão de outros nosso destino aos invés de lutarmos por nossos desejos. Quais portas de nossa consciência precisamos reabrir e adentrar.

“Qual será a chave que precisa ser recuperada?”

terça-feira, 24 de março de 2009

E ela sentou e contemplou o seu fracasso


Estando em estado de mais absoluta tristeza e desesperança ela sentou-se em seu pequeno mundo e ponderou:

“Não tenho mais auto-estima, não tenho mais o básico da sobrevivência....

Não consigo me alimentar e por muito pouco me mantenho viva, parei de fumar e minha essência se acabou, recuperei o pouco que me resta de saúde e de vida e perdi o que me era de mais valioso, perdi minha identidade, morri para poder ressuscitar!”


Num suspiro dolorido e corrosivo ela continuou ali parada a prantear a sua dor:

“Quanto mais fico aqui, mais me sinto vilipendiada, mais meu tempo se esgota e menos amor sinto correr em minhas veias...

Será a idade que me faz esvair ou serão os anos dedicados a amores ingratos e a dores infindáveis que me fizeram sucumbir?”


Dessas idéias jogas ao léu, revelaram-se cada vez mais perguntas mordazes:


“Serei eu fraca? Ou serei forte demais para aceitar o fracasso de um coração falido? Mais uma vez errei? Ou será que nunca acertei? Perguntas demais, respostas? Nunca as terei!!!!! É um relacionamento falido? Serei eu o motivo da falência? Ou será meu coração rebelde que nunca aceitará um dono e morrerá solitário como os dias que me cercam?

Terei paz se não aceitar o meu cálice ou terei de bebê-lo até a última amarga gota?"



Sopesou por um momento e a batalha mental voltou a enlouquecê-la:


“A resposta parece tão improvável! Serei minha ou do mundo? Serei cruel ou só mundana? Farei aquilo que nunca fiz?

Quero ser livre!!!! A liberdade custa felicidade alheia?!?! Serei livre não respeitando meus princípios? Sou prisioneira deles? Ou sou eu porque os sigo?

Durmo ao teu lado porque me acostumei a ser menosprezada? Ou aqui fico por me sentir maior? Sou só eu ou tu realmente fazes falta?

Creio que eu me faço falta! Alguém sabe onde estou?

Como foi possível ser derrotada por mim?

Onde estarei? Me encontrarei amanhã?

Acho que vou sucumbir a um de meus pesadelos mais terríveis... serei para todo sempre eu!!!!!”


E num momento de estranha sobriedade ela grita para seu coração:

“Acho que estou doente... acho que dessa vez é pra sempre... acho que posso... eu sempre posso... me dá náuseas pensar em ti... mas hoje não vou vomitar... bebi ... quero ficar amortecida um tempo... posso esquecer... posso perdoar... mas não a mim....”


Então, sem mais e sem respostas, ela toma a saída dos infelizes e desiludidos, embebe-se do espírito de Cleópatra e parte para terras distantes.

terça-feira, 17 de março de 2009

Um satélite pensante chamado Vera

As estações passam mas, aí no seu trajeto em torno de outra órbita o tempo parece estagnado sem rebeliões ou surpresas, somente a tristeza e a utopia, pelo menos nestes últimos dias .
Há muito tempo atrás (eu espero; não mais) você estaria fragilmente, porém veemente, tentando repercutir o som de tua voz através de uma distância desesperadora para que em algum momento ela chegasse aos ouvidos dele, como a verdade do que as coisas são e não como a verdade que ele enxergara, pois temos o terrível vício de ver as coisas da maneira que somos, e não como elas realmente são. Ele está distante, em outro lugar e os homens não são de Marte e nem as mulheres de Vênus, como um HOMEM lhe escreveu certa vez num livro.
Assim com seu pensamento entrando em ressonância inútil, Vera, te fez chegar bem perto do desespero. Você, enquanto somente palavras e lembrança no teu peito, sem voz nem ilustração que te representasse aos olhos dele, enquanto distante não só geograficamente, sem presença de espírito, como falar-lhe? Mas a arte do desespero é o que fazes, é estar num campo de batalha sem arma alguma em prontidão para lutar, mas não ao ver dele (do homem voz no telefone, do homem e-mail ), que quer que você tente devolver-lhe até aquilo o que ele te tirou para tentar resgatá-lo do senso comum e ordinário, da solidão travestida de cotidiano, da felicidade embriagada, da mediocridade disfarçada de calmaria, da paixão e a compaixão disfarçados de amor em que ele caiu tentando para com outra pessoa para causar-te ciúmes. Não. Jamais. Ele já é passado a tanto tempo... Se ele perdeu a noção da hora, ora, que deixe em paz teu domingo!
Ah, você jura que você é o melhor pra ele Vera? Pois escuta: para ele é bom, paralelamente a ti, começar de novo entre outros, porque é fácil perceber que você tem muito mais defeitos que uma pessoa que ele mal conhece - isso se ele estivesse tentando te esquecer mas, como dificilmente seja este o caso já que ele é quem foi embora, é como começar uma nova partida de um jogo, com novos jogadores que não conhecem suas táticas de guerra nem os seus erros e paixões, nem seu fracasso iminente em certas coisas, nem o tamanho de seu orgulho, aquilo que conheciam tanto um no outro em sua convivência; mas somente a alegria frugal dos novos “jogadores” , que se soubessem tais coisas não jogariam com ele.
Inocência estúpida de ambas as partes.
Virtudes no amor são possíveis com maturidade de entendimentos. E nada é pior do que o abandono e, no entanto, aquilo que amadurece sofridamente, como um fruto que cai verde e amadurece ao pé da árvore, solitário fruto sem caule alimentador, torna-se insosso e fenece precocemente - este é o que espera aquele que se foi e não sabe se quer voltar.
Se há tempos você já não o espera, é que há tempos outro espera por ti, mas este terá enfim aquilo que espera.
Eu não me arriscaria de forma estúpida, nem deixaria de me arriscar por mero conforto, é que o que tenho em mãos é demasiado precioso. Há de se tomar cuidado com aquele que quer ser conquistado de novo, o vaidoso que sabe de sua doença nostálgica com ele.
Muito mais precioso do que aquilo que ele te trará como um tesouro reluzente, com grandes olhos entusiasmados, é a tua razão. Aos meus olhos, um presente roubado de outras paisagens, o aprendizado de outras bocas, de outros tantos erros dele, jóia de brilho fugaz capaz de seduzir um somente um desesperado.
Sê fruto da poeira estelar deste universo com veias e verve, sólida e com itinerário próprio ao seu livre arbítreo, pare de rodopiar como um satélite preso à órbita de outros mundos.
E de uma vez por todas, toma a tua coragem e diz-lhe, Vera:
“Toma-o, guarde-o para ti. Guarde-o para quando te encontrares em tua noite mais escura.
E vá-te embora de uma vez.”
Senão, Vera, vai ter dó de si mesma lá em Cassiopéia...

segunda-feira, 9 de março de 2009

Solidão


É sempre tão difícil ser importante.

Passamos a vida toda tentando importar, para alguém, alguma coisa, ou para nós mesmos.

Sabe o que importa, não importar importa!

Ninguém para enxugar uma lágrima, segurar a mão ou ouvir quando vociferamos que somos inúteis. Ninguém para dizer tudo bem, ninguém para dizer esquece, amanhã é outro dia.

Solidão não é um estado de espírito é um estado permanente, duradouro e sofrido.

Solidão não é algo que bate à sua porta é algo nunca bater... Solidão é assim, meio que sem rumo, sem jeito, sem chance.

Solidão é a desculpa para nunca mais sentir ou doer, gritar sem ser ouvido, chorar sem ser corrompido.

Solidão não mata, engorda! Solidão não se pede nem se esquece, solidão não puxa, arrasta e arrasa, solidão não é sentida, é vivida.

Perder não leva à solidão, querer leva. Solidão não se escolhe se é escolhido. Solidão é viver sem querer viver!

Solidão é sorrir sem jeito, mas sempre dar um jeito. Solidão não leva à loucura leva ao desespero.

Solidão não ensina, castiga, fustiga, instiga...

Solidão faz aflorar nosso lado perverso, malicioso, pernicioso, desperta o lobo chamado instinto, faz o santo de pecador e o pecador de santo.

Ela provoca, corrompe, deglute todos os princípios, afoga o erro e obscurece o juízo. Entorpece os sentimentos e aguça os sentidos. Te faz ter fome mesmo quando alimentado, sedento mesmo quando saciado, sombrio mesmo quando iluminado, louco, sem juízo, sem conseqüências, faminto por ter.

Solidão é meio que vida, meio que morte, meio que ter sem ter, meio que nunca tendo, quase sempre perdendo.

Ousados são os solitários, pois a vergonha não lhes acompanha, a sobriedade lhes abandona e o mundo os exclui.

Solitário, sou, sem vergonha, mais instintos que sentimentos, mais animal, mais eu, mais seu, muito mais meu!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Mulheres

Hoje eu vou falar de mulheres!
Vou falar das mulheres que admiro, de suas dores, de sua coragem.
Não vou gastar meu tempo, seu tempo, falando das mulheres que envergonham o espírito feminino, mas sim, daquelas que todos os dias o elevam.

O difícil não é ser mulher, não é se adquear a um mundo ainda machista ou lidar com os outros. O difícil talvez seja mostrar que as mulheres são diferentes sim, mas que isso não as diminui em nada. E que cada característica desse feminino que aparenta tanta fragilidade, mas possui tanta força, é uma característica a qual se orgulhar. Pois sentir além do que parece possível, pois representar a leveza da vida, o arquétipo da emocionalidade e do lúdico, enfim, não há nada mais belo. E a praticidade, a objetividade e racionalidade? Não estamos nada longe de aprendê-las, pelo contrário, muitas convivem com elas há muito tempo. Podemos norsperder, quem nunca se perde? Mas o importante é que nos encontramos.

Há mulheres que se negam, que se adequam, que se sentem inferiores. Há mulheres que vivem, que batalham, que reconhecem seus valores e não se diminuem. A mulher deve ser bela e não me refiro externamente; ela precisa ter alma de criança, a eterna criança que se permite viver, só assim consegue ser feliz.

Na psicologia junguiana falamos em arquétipo feminino e masculino, e em suas energias correspondentes. Tanto homens como mulheres possuem os dois, mas em níveis diferentes. Cada um fala da essência do homem e da mulher, mesmo ambos coexistindo . A energia masculina (animus) se orienta por metas e tem a força de vontade de avançar para realizá-las. Experimenta a excitação de novos modos de se conduzir e o contínuo surgimento de novas energias. Sustenta a tensão perfeita entre um ponto de vista firme e a entrega às forças femininas criativas interiores. Insemina e libera a criatividade do feminino.

O feminino (anima), por sua vez, contém a animalidade primordial. Conhece as leis da natureza e coloca-as em prática com implacável justiça; vive no agora eterno. Possui um ritmo próprio e mais lento que a energia do masculino. O feminino encontra o que lhe é significativo e brinca. Pode trabalhar com afinco, mas a atitude é lúdica, pois ama a vida.

Então vemos que as mulheres tem sua energia masculina, mas sua essência feminina as torna quem são, quando respeitada.

Acredito que toda mulher tem uma alma terna, uma alma felina e uma alma de criança também. Uma ternura matriarcal que as fazem querer o bem e fazer o bem a seus protegidos. Ah sim, elegemos protegidos, e como se fôssemos responsáveis por eles, tomamos suas dores, suas raivas e suas felicidades. Mas temos nosso lado individualista, felino, que quer desbravar o desconhecido e provar suas potencialidades. Que se rebela e luta se necessário. Então, quando cansamos, nossa criança apenas pede o colo tão merecido, tão desejado. Nesses momentos voltamos a ser livre, leves, bobas, alegres.

Dedico essa poesia a essas mulheres maravilhosas, em especial a essas duas que dividem esse espaço comigo e que trazem a beleza de quem são em seus olhos. Aliás, acredito que cada uma delas, assim como cada uma das belas e fortes mulheres do mundo, um dia já desejou e talvez até tenha tentado, abraçar o mundo. Porque isso talvez façaparte dessa natureza leve, doce, matriarcal, rebelde, felina e criança da mulher. ;)


ABRAÇANDO O MUNDO

Eu queria poder envolver
o mundo com meus braços
Agarrá-lo com todas as minhas forças
e não deixá-lo jamais escapar
Queria poder gritar e expressar
o calor dentro de mim
o fervor, a inquietude
Exteriorizar o que sempre procurei esconder
Chega de pudor, de perder, de temer
A hora é de buscar os sonhos
esquecidos, perdidos, abandonados
De vencer os medos; o momento é de ousar
Quebrar as barreiras e gritar ao mundo
Eu quero ser OUVIDA, VIVIDA, USADA, AMADA
Uma mulher livre, liberta, libertada, libertária
O meu lado bela, o meu lado fera
E ai de quem não gostar
Eu quero não me lixar
Eu quero ser eu e mais nada.

27.05.02 - luaazul_

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Colcha de Retalhos


Recomeçar requer um boa porção de desilusão, uma queda drástica, uma pitada de culpa, acrescente um pouco de coragem, destemor , impetuosidade e pronto!

Em algum momento da vida todos percebemos que temos de recomeçar ou de algum ponto ou de ponto nenhum, as vezes somos forçados a tomar desvios, outras, o chão simplesmente desaparece de baixo de nossos pés nos lançando em queda livre no abismo.

Daí vem a fustigante pergunta: Como recomeçar? Bom, vai de cada um, mas o final é sempre o mesmo.

Veja bem, todos os fatos, amores e desabores da vida vão tecendo o que você é e como você será. Ninguém recomeça nada do zero, você pode pensar que sim, mas tudo que você vive, experimenta, sente ou deixa de fazer fica guardado dentro de você, impresso em suas pegadas.

Todos esses sonhos, frustrações, angustias e momentos felizes vão entrelaçando-se dentro de você criando uma enorme colcha de retalhos. Não tem como fugir disso, você se formou a partir da junção desses retalhos, isso é fato!

Então, recomeçar do zero, nunca, recomeçar sim, mas não do zero, você já recomeça envolto nessa enorme colcha que te aquece e te sufoca, te entorpece e te enlouquece, te dá razão e te desmerece, te enche de alegria e te entristece, te leva ao riso sem motivo e ao pranto motivado, te ensina e te emburrece, mas acima de tudo te enriquece e enobrece!
PS: Como sempre... foto de uma pintura minha... o pincel acompanha os devaneios das minhas reflexões.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O psicopata familiar-sensacionalista

Não adianta trancar as portas, fechar os cadeados e colocar grades em sua casa contra a violência e a tristeza da massa famigerada. A realidade de um mundo hostil está aí pra quem quiser ver ou não, ou pelo menos, para quem se importa com o ponto crítico em que chegamos.
Vivemos nesses tempos sob o jugo da crise financeira, da violência, da fome, etc. e tal. Mas não é sobre isso que eu quero falar, é sobre aquilo que eu estou cansada de ouvir.
Existe uma forma de cegueira profunda, de ignorância abstémia de boas idéias e de boas novas: a do psicopata familiar-sensacionalista. Ele faz parte da sua vida social, política, profissional e/ou amorosa. Sua mente trabalha como o conteúdo dos roteiros dos jornais sensacionalistas que ele assiste ao jantar, com os olhos bem abertos fixos na televisão, enquanto leva automaticamente à boca a comida que não vê e nem sente o gosto.
Ele não é mau, ele só é ordinário e cheio de tédio.
Ele pode ser um amigo(a), um companheiro(a), um(a) colega de trabalho ou até mesmo seus pais. Você é quem sentirá, primeiramente, na pele os sintomas deste distúrbio sócio-mental, pois eles afetam diretamente o conviva do PFS (ou FDP) , sintomas tais como: ressaca moral, desânimo, desilusão, desistência e pessimismo infundado. Geralmente isso acontece quando você conta suas novas idéias e planos para o PFS, ele vai tentar te convencer de que não vai dar certo pois, é arriscado, impossível ou ridículo o que você vai tentar fazer para conseguir algo além de mais do mesmo.
O PFS não é um depressivo propriamente dito, por não possuir profundidade ou auto-reflexão suficiente para isso, ele é raso e de visão estreita.. Também não é um completo infeliz já que, a sua ignorância o protege dos sobressaltos da consciência e dos lampejos do espírito crítico.
Ele te agride, pois sabe que você vai pensar duas vezes antes de revidar afinal, ele faz parte da sua família. Toxicamente, sua maior arma é fazer com que você sinta culpa.
A maioria parece apresentar mais de quarenta anos de idade, já gostou de Rolling Stones em alguma época da vida (talvez quando apaixonados e livres) e passou a escutar Bryan Adams (brincadeirinha) talvez já desiludidos, depende da família. Pode muito bem ser um irmão (irmã) mais novo (a) que gosta de coisas muito parecidas com as que você aprecia, mas que no fundo, tem uma mentalidade defasada.
Podem apresentar talento súbito (lá vem o sarcasmo...) para a escrita de livros de auto-ajuda, que quase sempre são uma péssima escolha de presente para se dar a um suicida ( ou para qualquer pessoa). Mas também pode ser seu(sua) irmão(irmã) mais novo (a) e gostar de coisas muito parecidas com que as que você gosta, mas não gostar o bastante de si mesmo para gostar das pessoas como elas são.
* Livro de auto-ajuda, leia-se: livro que ajuda o próprio escritor a desabafar seus problemas durante a escrita do mesmo. Não ajuda o leitor. O leitor faz o papel do psiquiatra que paga para ler o depressivo, e que fica deprimido com tal leitura.
Para o psicopata familiar-sensacionalista emagreceu é câncer, engordou é gestante. As coisas do passado lhe parecem imperecíveis, indeléveis, mais impertinentes que otite em orelha de gato.
O PFS tem o talento de fazer com que suas obrigações para com os outros se pareçam com favores que custam caro, pois a vida é muito, muito difícil e o tempo dele é precioso.
É bom ressaltar, por medida de precaução, que o Psicopata familiar-sensacionalista não tem um senso de humor bem desenvolvido. Uma brincadeira pode facilmente lhe soar como ofensa, é como aquele que não sabe rir de si mesmo mas é um exímio onanista cômico: adora contar piadas que só ele ri, o imaturo é você!
Relacionamentos amorosos são complicados para os PFS. Inseguros, só amam aqueles que dependem deles, mas juram não depender de ninguém e juram que você depende deles!
A questão é, a vida é complicada mesmo, principalmente quando temos alguém pra azedar as expectativas das coisas que lutamos para conseguir, como se já não bastasse o idiota histérico de alguns jornais gritando na tv, desrespeitando a inteligência e a hora do jantar do telespectador boquiaberto, para a pessoa ainda ter que aguentar mais esse segundo clichê (metáfora jornalística) em suas casas e em suas vidas.
Nanã, uma cozinheira meiga e sabida que trabalhava lá em casa dizia: “- Meu bolo não cresce quando tem olho dessa gente em cima, estraga tudo!”

Não há o que fazer, mantenha uma certa distância de pessoas assim.
É perdoar a pobreza de espírito alheia, não ter pena e se segurar pra não mandar a mão.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Sofrer demais por... coisa à toa?

Não sei bem ao certo se é por coisa pouca, mas que eu sofro demais sofro. Na verdade sofro demais mais pelo que não deveria e menos pelo que talvez devesse. Não sei se isso faz algum sentido, mas eu acabo sempre me descabelando e quando percebo já resolveu. Em contrapartida, nas situações as quais muitos se descabelam, estou sempre bem penteada, calma e dizendo que passa, tudo passa e realmente... passa.

Sempre achei as pequenas coisas as piores, e hoje constato que são. Elas são imprevisíveis, recorrentes, independentes do que façamos, amaldiçoadas, e tudo que tiverem direito de ser!

E na minha vida ainda são mais, são constantes!

Ah como cansa sempre ter algo pequenino e chato pra resolver. Vai juntando tudo e me diz se não enche um caminhão? Enche!!! E transborda! Sem contar o corre corre, o liga pra lá e pra cá, o fala com um e com outro, o não resolve, não descobre, o acho isso e o outro aquilo, as indefinições e as dúvidas e por fim, o problema lá, no mesmo lugar. Sorrindo ironicamente. Ai de mim se pensar "não falta mais nada". Viro a Jane do desenho do Tarzan, sabem qual? Quando ela reclama que está presa num abismo e aí... chove.

Vamos lá pessoal, assumam, com vocês é assim também? Pequenas coisas, pequenos incômodos, grandes proporções.

Preciso fazer as pazes com os imprevistos porque pelo visto eles gostam de mim e eu, não sei como, os atraio. Tenho que reconhecer que uma vida atribulada me parece mais interessante que o marasmo do dia a dia. Mas será que sempre procuramos pelo que temos? Ou às vezes existe um imã? Será que o que temos não procura por nós?

Para quem acredita, eu deveria comprar um pé de arruda. Aliás, não deve ter sido à toa que o meu, por mais pesado que o pote fosse - e era-, vôou da janela sei lá para onde! Apenas não estava mais lá um dia.

A questão é que no fim, acho que somos nós mesmos quem complicamos tudo.
O que era simples se torna complexo e o complexo parece então mais fácil.
Mas porque tanta dificuldade em lidarmos com isso? - ou apenas minha.

Eis algumas palavras antigas...

"Sem rumo algum vou seguindo
A dúvida já não mais incomoda como outrora
pois hoje vivo com a certeza de simplesmente nada saber

Venho de um lugar sem memórias e caminho pelo curso da vida
Não sei se sinto demais ou se me anestesiei

Apenas quando bate o desespero, que nem ao menos sei de onde vem

posso perceber que ainda estou viva, numa vida morna
Que varia em tanta agitação que não consigo acompanhar
O tédio e o marasmo intercalam com a tristeza e o desânimo

O abismo sorri para mim às vezes
sussurrando
palavras quase que acolhedoras

mas o vento passa e leva consigo a ilusão de uma fácil realização

Frente a essa realidade que açoita meu corpo cansado

vou fazendo tudo errado sem saber como mudar

Sem a menor crença de ajuda possível,

a solidão em que afundo grita agudamente para mergulhar

e sem braços que me sustentem eu questiono

Talvez seja mais fácil se entregar

Mas o incômodo tramado não sei por quem

tem tamanho domínio sobre mim que não consigo ignorá-lo

Então, vou vivendo assim entre os limites
incomodada e satisfeita, atribulada e entediada
empolgada e desanimada, feliz e triste

Com raros toques de satisfação total."


luaazul_ 13.06.08

sábado, 24 de janeiro de 2009

Realidade Monocromática


Um dia tive que partir e aceitar que não haveria mais volta.

Dada a minha natureza guerreira não me conformei de pronto. Me sacudi tanto quanto alguém que passa na EPIA em reforma, chutei como atacante do Gama, fiz tanto barulho quanto as cigarras na primavera, discursei como os político no Congresso, dei voltas em mim como quem sai do Eixão e quer ir a uma quadra das 400.

Tentei mudar o rumo dobrando em alguma esquina, mas não haviam esquinas, me desesperei e pensei em caminhar pelas ruas, mas não havia calçada, pensei em sentar em uma praça para pensar no que fazer, mas a “Palato” deveria estar cheia de adolescentes, pensei talvez em sentar à sombra de uma árvore, uma manga provavelmente cairia em minha cabeça.

Revoltada e desacorçoada busquei asilo na esplanada, a praça estava cheia de pombos causando alvoroço, precisava fugir daquela paisagem fria e seca de concreto armado, pensei em ir até o lago, mas me deparei com arcos entrelaçados de metal retorcido e mais toneladas de concreto.

Disse a mim mesma: partirei desta cidade! Pegarei a saída sul ou norte, mas partirei.

Sentei para ler o Correio na busca de um motivo para ficar, a manchete era sobre o governo derrubando mais casas de famílias humildes e orgulhoso anunciando o Noroeste como solução de moradia - lugar onde o metro quadrado já vale mais de dez mil reais.

Disse não, não posso me deixar abater, tenho que lutar! Busquei meu bar favorito, mas não encontrei vaga, nem na quadra! Fui até o parque para dar uma volta no “pedalinho”, lá eu encontraria paz. Cadê o pedalinho? Só ficaram os patos mau-humorados.

Não, não, não é possível, vou para saída sul! O engarrafamento começava da oito...

Fui até a Torre para dar uma última olhada na cidade, só consegui ver os prédios que se adonaram do Eixo Monumental. Onde foi parar o avião?

Já sei, vou para saída norte, o “buraco do tatu” parecia um imenso aquário de tanta água, inclusive haviam alguns “carros peixe” nadando na sua imensidão.

Sem escolha passei pela rodoviária, parei no semáforo e um mar de gente cobriu meu carro, vinham de todos os lados apressados para não perder a condução. Foi uma visão angustiante!

Dei a volta e segui no Eixo Monumental sentido Memorial JK, o mar de carros era sufocante e tornava a marcha muito lenta.

Notei o céu tão azul que os olhos doíam, ele havia me seguido o dia todo, eu nem o notei. Naquele momento o sol decidiu partir e o céu que outrora era azul ficou lilás, vermelho, rosa, multicolor.

Então vislumbrei que a realidade não era tão monocromática. No fim do dia e no começo de um novo a realidade torna-se multicolor no céu de Brasília.
PS: Os quadros também são criações minha.



quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Sensações X Realidade

"A noite sorri com a inocência de uma criança que cativa a um primeiro olhar... ela nos toma em seus braços, tocando-nos levemente ao soprar do vento... de repente os pensamentos perdem-se em meio à música e estrelas... Em um céu escuro e limpo, uma lua procura se esconder.

A conversa e seu som tornam-se distantes, agora apenas rumores que se perdem em sussurros para não restar muito mais do que a vaga sensação de não estar completamente só.
Mas a solidão brinda com o vento gélido da noite e seu abraço já não é, há muito, aconchegante.

As imagens ao redor transformam-se em borrões coloridos que se confundem entre si, tornando tudo uma cor única. Formas não mais visíveis, sensações impossíveis de serem descritas... os movimentos se confundem quando percebidos e a mente não mais responde ao que poderia um dia, ter feito um sentido qualquer.

O corpo dança sua própria dança enlouquecida, sem controle, sem barreiras, sem nada a temer.
Molhado de suor, louco por se expor, baila ao som da lua e adormece ao canto do vento... o amanhecer agora o guardará.

E a movimentação louca do que a rodeia vai se dissipando, não há como saber ao certo quando passou a ser desapercebida ou em que momento começou a não mais perceber."
luaazul_ 18.02.2005

Sempre gostei de escrever e pensar em sensações. Nesse texto acima elas simplesmente aparecem transbordadas de emoções.
É interessante como nossas sensações não necessariamente condizem com a realidade. Mas muitas vezes com nossas necessidades, satisfações, desejos ou até mesmo inseguranças.

Não interessa como estamos, mas como nos percebemos. Sentir-se pequeno talvez seja o mais assutador de todos os sentimentos; não visualizar qualquer possibilidade para sair desse estado, a mais assustadora de todas as impressões; não conseguir fazer nada a respeito, a mais assustadora sensação de impotência.

Dar-se ao direito, reconhecer-se não tão forte, e permitir-se desabar são coisas que assustam para uma pessoa acostumada a fazer-se de forte o tempo inteiro. Independende de se o faz por escolha ou necessidade. Com o tempo apega-se a tal sensação que fica difícil largá-la.

Não sentir medo. Medo é o termômetro de nossa segurança, mas ele também é o veneno paralisador de todos nossos órgãos. Com a música de sua flauta as varias melodias ficam em nossas mentem e mexem com nossa realidade e sentimentos.

Pan! Eis o deus pagão que inspirou a origem e significado da palavra pânico. Dizia que este deus grego gostava de descansar à tardinha nas sombras das árvores e que ninguém ousava incomodá-lo, pois caso o acordassem, ele ficava tão irritado que soltava um rugido pavoroso, que podia-se ouvir a longas distâncias, e que ao ouvirem tal som, as pessoas ficavam perplexas e paralisadas... cheias de pavor.

Pior do que estar sozinha, é sentir-se sozinha. Pior do que uma situação dolorosa, é não conseguir vê-la passar. Pior do que a dor, é o medo.
Às vezes dá vontade de ficar no cantinho, quieto, sem participar de toda a imensidão lá fora.
Às vezes dá vontade de pular de cabeça.
Muitas vezes não dá vontade nenhuma.

É estranho não conseguir formar uma idéia, mesmo quando procuramos desesperados por ela.
Esperar... talvez seja esse o grande desafio.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

GAZA

Um dia, contra todas as leis da física
Vai que este céu desaba e quebra toda sua opala leitosa!
Farto de ser alvo de tantos olhares desesperados, de projéteis mortíferos
que, reluzentes de fogo cortam sua calma com um rastro de pólvora e fumaça,
vai que a carcaça azul de sonhos suspendida
se farta do peso onírico e dos fantasmas da morte, e como uma pele morta se descola!
Ah, a Senhora Bovary como que perdida em tamanha miragem
cozeria o estranho tecido celeste, cingindo-o à sua cintura como uma corda!
O céu adoecerá antes que o mundo morra
e o espelho azul, oxidado, inclinará sobre vossos rostos
a verdade explícita em sua superfície acidentada:
O lar de vossos deuses está acabado, assim como a matriz dos sonhos de seus filhos,
caindo sobre o solo as andorinhas mortas.

Alessandra M. P. Oliveira

Falta de criatividade?


Ah, dou de cara, novamente, com o velho bloqueio. Um grande muro em erosão feito de símbolos, palavras e sentimentos de memória curta e desencaixada.
Nada me deixa mais perdida nesse mundo. Não consigo escrever. Escreverei sobre não conseguir escrever, portanto.
Os dias estão calmamente iguais, o temperamento controlado (malditos remédios, malditas férias) , acho que essas coisas não colaboram para desencadear de um diálogo íntimo.
As cortinas estão frouxas e empoeiradas, os atores ainda estão de ressaca do ano novo, desequilibrados, maltrapilhos, lindos, mumificados. Acho que o teatro é que está precisando de reformas. Não conseguirei nada sem situar as palavras em um ambiente, criar um cenário para acomodá-las, um berço para criar os monstros das relatividades.
Não, não vou pegar no livro que estava lendo, vai que eu acabo escrevendo no jeito do cara. Melhor eu cá, ele lá, cada um com a sua capa.
Dedos gelados...Um pouco de Brandy, talvez para ruborizar minha cara de merda. Nada... Perdi meu traço, que perfil eu faço? Cadê meu cigarro?
Não tenho personagens, nem posso brincar grotescamente de possuir múltiplas personalidades, Pessoa era bom nisso, não de forma grotesca, é claro...
Ah, que pobreza de criatividade, como a dos filmes pornográficos!
Vou acabar contaminando quem lê, que Deus os guarde, que dele já me esqueci.
Para onde é que íamos mesmo?

sábado, 17 de janeiro de 2009

Ladrões de Alma

Existem milhares de coisas que a razão humana não consegue explicar, e dentre elas um questionamento não sai da minha cabeça: Como pode ser?

Passei minutos que se transformaram em horas, depois foram dias, meses e hoje anos, anos que essa azucrinante pergunta me corroe.

Se algum dia eu amei alguém hoje não sei dizer, acho que amei mais a ilusão de amar do que a razão de sentir.

Interessante como quando estamos inebriados pela ilusão de amar acreditamos piamente no ser amado e vociferamos dentro de nossas almas mantras como: Se eu tivesse que apostar em alguém eu apostaria nele! Se eu tivesse que confiar cegamente em alguém eu confiaria nele! Se eu tivesse que dar a alma a alguém eu a daria a ele! Se eu tivesse que me despir de todos os ideais e de minhas rígidas regras de honra, lealdade e compaixão, eu me despiria por ele! Queimaria todos os meus navios só para vê-lo navegar no mar da felicidade.

Daí, de uma hora para outra, tudo acaba, a aposta foi perdida a alma linchada e o sentimento que antes era resplandecente e sagrado, torna-se pecado mortal.

Se eu tivesse a capacidade de ver além de tudo isso e conseguisse encontrar a resposta a essa singela pergunta que me corroe, acho que eu me depararia com outra pergunta: Como pôde? E se a resposta a esta pergunta viesse como que num milagre eu me perguntaria: Por que assim, tão desonrosa despedida?Um tempo falsificado, um adeus sórdido, um desprezo sem precedentes a alguém que dividiu tantos anos com outro alguém... O disfarce, a ilusão, o engodo, a depressão, o desespero, a falta de respeito, a falta de lealdade que deve, precipuamente, reger as relações de cunho moral.

Os dias vividos e esperados, a solidão, o gosto amargo da derrota, o triste silêncio que se fez em tão curto espaço de tempo e que devassa a alma daqueles que têm em suas mentes perguntas tão impossíveis de serem respondidas.

Dizem que o tempo, inexoramente, tem o condão de curar qualquer ferida ou dor, mas será mesmo que ele pode curar tamanho rasgo na alma? Será que em algum momento da vida essas perguntas não mais terão sentido, haja vista a resposta não ser mais necessária? Ou pode ser que um anjo piedoso sopre o sopro dos justos e aquiete a alma daqueles que já perderam as forças e passaram as mais tristes humilhações?

As pessoas têm muitas formas para agir em determinada situação, mas quase nunca escolhem a melhor forma de dizer adeus. O adeus é dolorido para quem vai e mais ainda para quem fica, quem vai, vai buscar outra vida, mas lhe dói ter que largar a vida de outrora, quem fica, fica preso na vida que tinha e implora todos os dias para que sua vida seja devolvida.

Me indago mais uma vez: Como pode ser? Foi por demais desonroso, por demais dolorido, por demais insensível! Ou será que não foi? Será que foi a melhor forma? Provavelmente sim...Hoje sentimentos indesejáveis habitam minha alma: engodo, engano, trapaça, 171, exploração, vergonha, medo, solidão, fracasso, humilhação, desprezo, mentiras...

Descobri que não sou tão nobre quanto achei que fosse, também posso fazer mais mal do que bem. Tive a desagradável surpresa da descoberta de minhas fraquezas, meus traumas não curados e meus temores mais sombrios vindo a tona nesse mar de desencontros.

Se eu pudesse escolher, nunca teria escolhido o caminho que segui, mas na maioria das vezes são nossos fantasmas que ditam qual estrada de tijolos amarelos iremos seguir.

Ver alguém partir é quase tão dolorido quanto ver chegar. Chegada inesperada, partida anunciada por lágrimas e solidão.
Existem pessoas que vêm às nossas vidas só para levar um pouco da vida dos nossos olhos, um pouco da chama da vida que arde em nossas entranhas. Pessoas que te marcam muito na chegada e te destroem na partida. Pessoas que te arrasam só para lhe ensinar que a vida é curta, assim como curto lhe parece o tempo que com tanto amor foram divididos com aqueles que hoje denomino "ladrões de alma" ou "devoradores de sonhos".
Esses seres místicos, por serem místicos na realidade não encontram lugar nesse mundo, só encontram lugar no mundo dos sonhos, e lá habitam até o último suspiro do ser que eles roubaram a alma...
PS: A figura ao lado é foto de um quadro pintado por mim o qual leva o mesmo nome do texto, ambos inspirados em uma garrafa de vinho e uma dor crônica na alma.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

"A tudo a gente se habitua..."

Como começar? De repente - nem tanto assim - dirigindo e já com certa parcela de intolerância às coisas do cotidiano, que ninguém que eu conheça realmente mereça - mas que acontece com a grande maioria - ouvindo música... veio a idéia, ou melhor, a música!

Resolvi começar falando nem de mim, nem de ninguém, mas talvez um pouco de todo mundo. Ainda está meio confuso, eu sei. Mas vamos lá... as idéias brotam e os dedos não acompanham...

Tem uma banda que eu curto muito, muito mesmo. E uma das coisas que eu acho mais interessante nessa banda, é como ela - como muitos a descrevem e por isso também não a curtem - consegue ser pesada em suas letras, "deprê" no popular. Mas o que eu gosto, é como ela consegue falar da realidade - porque pode ser pesado, pode ser triste, depressivo, ou qualquer outro adjetivo que queiram adicionar aqui - mas é realista. E junto a esse realismo ela inclui uma dose ou de sarcasmo ou de euforia, mas junto a letras profundas simplesmente vem um som leve e divertido. Se você focar na letra é uma sensação, na sonoridade outra... nem parece uma música só.

Acho que se focar nas duas verá a grande realidade que vivemos, como grandes coisas não têm valor e coisas sérias passam desapercebidas aos olhos de muitos; são comuns ou simplesmente não são seu problema. Mas estão lá... e com o tempo passam a fazer parte do dia a dia de todos - envolvidos ou achando-se que não.

E o interessante é isso. Como conseguimos transformar as coisas de acordo com o que queremos ver, como que queremos que sejam, ou simplesmente com o que damos conta de enfrentar.
É mais fácil conviver com certas coisas, repetidamente, quase que num ritual cego de desviar do que simplesmente fazer algo a respeito. O egoísmo impera e a frieza, que já virou há muito um embotamento afetivo - porque a própria emoção não parece presente - sente-se em casa e bastante à vontade.

Mas enfim, eis a letra, fica mais fácil entender o que procuro expressar:
Até eu mesma já me habituei a algumas coisinhas hehehe
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

Vida Diet - Pato Fu
Composição: John Ulmoa

A gente se acostuma
Com tudo
A tudo a gente se habitua
E até não ter um lugar
Dormir na rua
A tudo a gente se habitua

Me habituei ao pão light
À vida sem gás
O meu café tomo sem açúcar
E até ficar sem comer
Sem te ver
A gente custa mas se habitua

Sem giz, sem água
Sem paz, sem nada

Não vai ser diferente
Se eu me for de repente
Se o céu cai sobre o mundo
E o mar se abrir em um
Inferno profundo

Se acostumou sem querer
Ao salto alto
Salário baixo, à vida dura
E até ficar sem tv
É bom pra você
Televisão ninguém mais atura

Sem giz, sem água
Sem paz, sem nada

Não vai ser diferente
Se eu me for de repente
Se o céu cai sobre o mundo
E o mar se abrir em um
Inferno profundo