As estações passam mas, aí no seu trajeto em torno de outra órbita o tempo parece estagnado sem rebeliões ou surpresas, somente a tristeza e a utopia, pelo menos nestes últimos dias .
Há muito tempo atrás (eu espero; não mais) você estaria fragilmente, porém veemente, tentando repercutir o som de tua voz através de uma distância desesperadora para que em algum momento ela chegasse aos ouvidos dele, como a verdade do que as coisas são e não como a verdade que ele enxergara, pois temos o terrível vício de ver as coisas da maneira que somos, e não como elas realmente são. Ele está distante, em outro lugar e os homens não são de Marte e nem as mulheres de Vênus, como um HOMEM lhe escreveu certa vez num livro.
Assim com seu pensamento entrando em ressonância inútil, Vera, te fez chegar bem perto do desespero. Você, enquanto somente palavras e lembrança no teu peito, sem voz nem ilustração que te representasse aos olhos dele, enquanto distante não só geograficamente, sem presença de espírito, como falar-lhe? Mas a arte do desespero é o que fazes, é estar num campo de batalha sem arma alguma em prontidão para lutar, mas não ao ver dele (do homem voz no telefone, do homem e-mail ), que quer que você tente devolver-lhe até aquilo o que ele te tirou para tentar resgatá-lo do senso comum e ordinário, da solidão travestida de cotidiano, da felicidade embriagada, da mediocridade disfarçada de calmaria, da paixão e a compaixão disfarçados de amor em que ele caiu tentando para com outra pessoa para causar-te ciúmes. Não. Jamais. Ele já é passado a tanto tempo... Se ele perdeu a noção da hora, ora, que deixe em paz teu domingo!
Ah, você jura que você é o melhor pra ele Vera? Pois escuta: para ele é bom, paralelamente a ti, começar de novo entre outros, porque é fácil perceber que você tem muito mais defeitos que uma pessoa que ele mal conhece - isso se ele estivesse tentando te esquecer mas, como dificilmente seja este o caso já que ele é quem foi embora, é como começar uma nova partida de um jogo, com novos jogadores que não conhecem suas táticas de guerra nem os seus erros e paixões, nem seu fracasso iminente em certas coisas, nem o tamanho de seu orgulho, aquilo que conheciam tanto um no outro em sua convivência; mas somente a alegria frugal dos novos “jogadores” , que se soubessem tais coisas não jogariam com ele.
Inocência estúpida de ambas as partes.
Virtudes no amor são possíveis com maturidade de entendimentos. E nada é pior do que o abandono e, no entanto, aquilo que amadurece sofridamente, como um fruto que cai verde e amadurece ao pé da árvore, solitário fruto sem caule alimentador, torna-se insosso e fenece precocemente - este é o que espera aquele que se foi e não sabe se quer voltar.
Se há tempos você já não o espera, é que há tempos outro espera por ti, mas este terá enfim aquilo que espera.
Eu não me arriscaria de forma estúpida, nem deixaria de me arriscar por mero conforto, é que o que tenho em mãos é demasiado precioso. Há de se tomar cuidado com aquele que quer ser conquistado de novo, o vaidoso que sabe de sua doença nostálgica com ele.
Muito mais precioso do que aquilo que ele te trará como um tesouro reluzente, com grandes olhos entusiasmados, é a tua razão. Aos meus olhos, um presente roubado de outras paisagens, o aprendizado de outras bocas, de outros tantos erros dele, jóia de brilho fugaz capaz de seduzir um somente um desesperado.
Sê fruto da poeira estelar deste universo com veias e verve, sólida e com itinerário próprio ao seu livre arbítreo, pare de rodopiar como um satélite preso à órbita de outros mundos.
E de uma vez por todas, toma a tua coragem e diz-lhe, Vera:
“Toma-o, guarde-o para ti. Guarde-o para quando te encontrares em tua noite mais escura.
E vá-te embora de uma vez.”
Senão, Vera, vai ter dó de si mesma lá em Cassiopéia...
terça-feira, 17 de março de 2009
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2 comentários:
Quer análise melhor do fim de um relacionamento, pede a Freud!
Adorei! Perfeito na sua totalidade!
Acrescento apenas que qualquer coisa a acrescentar estaria demais.
Beijos!
Parabéns pelo seu texto. Simplesmente fantástico, genial. Restrata perfeitamente o que, por vezes, nos acontece no fim de um relacionamento. O quanto ficamos presos em algo que simplesmente já acabou e tão dolorosamente somos incapazes de enxergar por um longo tempo. Muito bom mesmo!
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