terça-feira, 31 de março de 2009

Zelig



Agora eu vou sair de trás do filósofo e falar a verdade:
Eu era feliz quando não achava que precisava comprar um carro;
Eu era feliz, quando acreditava na arte que eu fazia, e já não faço;
Era feliz quando tinha mais amigos envolvidos com arte e não com o emprego público;
Eu era feliz quando saía com estes amigos com15 reais e bebia pra cacete no bar do Brás;
Eu era feliz quando não me importava de não ter celular;
Era feliz quando não me importava tanto com a minha aparência;
Quando eu não tinha medo de envelhecer;
Eu era feliz quando tinha medo de morrer, tinha medo porque eu era feliz;
Eu era feliz quando não tomava tantos anti-
depressivos.
Agora o mundo me engoliu, está me digerindo no estômago pútrido da Capital Federal onde multidões de Zeligs estão atormentando minha existência.
Afinal quem são vocês, Zeligs de Brasília? Peace and love o cacete... De tanto se moldar, se adequar a verve e a inteligência vão esvaindo. Eu me assusto com a rapidez com que as pessoas mudam de opinião, de gosto, de caráter, de humor. Zeligs loucos, depravação de personalidade!
Eu preciso sair dessa cidade e viver meu sonho que soa tão estúpido aos ouvidos de quem não quer ouvir.
Será que as pessoas estão tão destituídas de senso crítico, de critérios para barrar o ridículo de suas vidas, que a má mídia e a opinião alheia (alheia à tudo) influenciem tanto seu comportamento?
Cada vez mais as propagandas me causam terror. O apelo sexual, o apelo ao humor grotesco e à supremacia da imbecilidade onde tem gente (juro que não é exagero) que se encantam pela proposta de propagandas que afirmam que carro é chamariz de top model , que o álcool tem papel de inclusor social e iogurte pra prisão de ventre trás uma felicidade contagiante para as mulheres.
Você é o seu celular, seu carro, a marca da sua roupa, seu piercing, seu cargo. Você acha que você é isso? Eu não.
Que bosta de vida é essa?
Eu não quero um apartamento em Águas Claras, não quero me matar pra comprar um carro do ano, não quero gasolina, etiqueta, restaurante, moda, aliança, filhos, celular, carteira assinada, reputação, reconhecimento, gratidão, Domingão do Faustão, manicure, pedicure, terapeuta, internet wireless, etc...
Eu voltei para essa droga de cidade para tentar estudar, arrumar um estágio e pagar uma quit. Não consegui arrumar um estágio, nem emprego e por conseqüência, fiquei sem a quit.
Pode me chamar de perdedora, foda-se. Não dá para ter uma vida simples em Brasília, é preciso muito dinheiro pra tudo. Levava uma vida simples, me fodi por causa disso, não me adaptei. Sou ambiciosa, mas as minhas ambições são outras, o dinheiro deveria ser conseqüência dessas conquistas.
Eu sou egoísta mesmo, quero fazer o que eu gosto, trabalhar no que eu quero, se não der, trabalhar por um ganho justo já que teria de fazer o que eu não gosto, nunca deixar de estudar, morar com meus amigos em Minas, em um lugar onde eu consiga pagar (o convite é tentador), ouvi-los ensaiar suas músicas no “quarto-estúdio”, comer o que tiver, tomar cerveja barata, poder ir andando à pé à padaria, escrever, pintar, ler e estudar canto nas horas livres e ser a pessoa mais feliz deste mundo.
Eu sei o quanto isso pode soar pueril ou imaturo, mas é verdade, a minha verdade, não acredito em verdades absolutas que não sejam as das equações matemáticas..
Estou puta da vida.
A pessoa que amo nem sequer tem a pretensão de algo parecido, tudo deve ter grande segurança e planejamento envolver dinheiro e tempo demais, eu nem sei onde eu entro nesses planos, eu só sei que o tempo não tem preço, que a juventude não volta e a velhice não vai dar troco. Por conta disso, sigo por aqui mesmo tentando transformar tripa de calango em quitute culinário requintado, só não sei até quando vou agüentar.
O tempo é a coisa mais preciosa do mundo, e eu não quero ter essa morte em vida.

domingo, 29 de março de 2009

O mundo em que vivemos e o mundo no qual gostaríamos de viver...


Não existe um mundo perfeito. Podemos até idealizar, mas quando menos esperamos, a realidade bate à nossa porta.
Trilhamos caminhos diferentes aos quais sonhamos na infância. Isso não quer dizer que sejam piores ou que não nos realizem, são apenas diferentes. Às vezes, por não serem como imaginados, não nos permitimos ver quão bom são. Apegamo-nos tanto ao que não temos e ao que queremos, que simplesmente não percebemos o que é possível e o que realmente nos satisfaz.

O ser humano tem essa característica intrínseca de desejar sempre mais, uma falta que nunca se completa. Ao não sentir-se totalmente realizado, como conseqüência , talvez por ignorância, talvez por comodismo, talvez por incapacidade, começa a responsabilizar o externo por suas dificuldades e seus projetos não realizados. Com isso, muitas vezes não percebe suas conquistas e prazeres, pois as expectativas estão muito acima do que é possível concretizar. Seu foco torna-se o que não possui, ao invés do que o completa. Assim, acredita que a responsabilidade disso vem de fora e não de si mesmo.

Não, não acho que devamos esperar menos, sonhar baixo ou desejar pouco. Mas sim, acho que devemos além de buscar nossas expectativas, também vivenciar o aqui e agora. Permitir-se lambuzar-se ao saborear as conquistas realizadas. Sem pressa. Vivenciar o momento o quanto for possível e preciso. Desejar, mas permitir-se satirfazer-se.

Faz parte abrir mão de coisas por outras, e se isso é visto por muitos como um problema, uma subordinação, ou infelicidade; eu vejo como uma troca. Há escolhas que fazemos em prol de uma maior satisfação ou de alguns benefícios. O difícil talvez seja mediar esse processo. Permitir-se aceitar ou trocar sem esvaziar-se, sem ultrapassar seus limites e sem sentir-se preso,enjaulado.

A tendência é começar a culpar a vida e os outros por nossas submissões, sem perceber que nós mesmos entramos na jaula e jogamos a chave fora. Isentamo-nos de qualquer responsabilidade sobre nosso destino e não percebemos que sofremos diariamente por nossas próprias escolhas e medos.

Precisamos olhar para dentro de nós e desvendar quais escolhas deixamos de tomar que nos deixaram tão domesticados a ponto da vida parecer sem sentido. Quais atitudes nos assustam tanto que preferimos colocar na mão de outros nosso destino aos invés de lutarmos por nossos desejos. Quais portas de nossa consciência precisamos reabrir e adentrar.

“Qual será a chave que precisa ser recuperada?”

terça-feira, 24 de março de 2009

E ela sentou e contemplou o seu fracasso


Estando em estado de mais absoluta tristeza e desesperança ela sentou-se em seu pequeno mundo e ponderou:

“Não tenho mais auto-estima, não tenho mais o básico da sobrevivência....

Não consigo me alimentar e por muito pouco me mantenho viva, parei de fumar e minha essência se acabou, recuperei o pouco que me resta de saúde e de vida e perdi o que me era de mais valioso, perdi minha identidade, morri para poder ressuscitar!”


Num suspiro dolorido e corrosivo ela continuou ali parada a prantear a sua dor:

“Quanto mais fico aqui, mais me sinto vilipendiada, mais meu tempo se esgota e menos amor sinto correr em minhas veias...

Será a idade que me faz esvair ou serão os anos dedicados a amores ingratos e a dores infindáveis que me fizeram sucumbir?”


Dessas idéias jogas ao léu, revelaram-se cada vez mais perguntas mordazes:


“Serei eu fraca? Ou serei forte demais para aceitar o fracasso de um coração falido? Mais uma vez errei? Ou será que nunca acertei? Perguntas demais, respostas? Nunca as terei!!!!! É um relacionamento falido? Serei eu o motivo da falência? Ou será meu coração rebelde que nunca aceitará um dono e morrerá solitário como os dias que me cercam?

Terei paz se não aceitar o meu cálice ou terei de bebê-lo até a última amarga gota?"



Sopesou por um momento e a batalha mental voltou a enlouquecê-la:


“A resposta parece tão improvável! Serei minha ou do mundo? Serei cruel ou só mundana? Farei aquilo que nunca fiz?

Quero ser livre!!!! A liberdade custa felicidade alheia?!?! Serei livre não respeitando meus princípios? Sou prisioneira deles? Ou sou eu porque os sigo?

Durmo ao teu lado porque me acostumei a ser menosprezada? Ou aqui fico por me sentir maior? Sou só eu ou tu realmente fazes falta?

Creio que eu me faço falta! Alguém sabe onde estou?

Como foi possível ser derrotada por mim?

Onde estarei? Me encontrarei amanhã?

Acho que vou sucumbir a um de meus pesadelos mais terríveis... serei para todo sempre eu!!!!!”


E num momento de estranha sobriedade ela grita para seu coração:

“Acho que estou doente... acho que dessa vez é pra sempre... acho que posso... eu sempre posso... me dá náuseas pensar em ti... mas hoje não vou vomitar... bebi ... quero ficar amortecida um tempo... posso esquecer... posso perdoar... mas não a mim....”


Então, sem mais e sem respostas, ela toma a saída dos infelizes e desiludidos, embebe-se do espírito de Cleópatra e parte para terras distantes.

terça-feira, 17 de março de 2009

Um satélite pensante chamado Vera

As estações passam mas, aí no seu trajeto em torno de outra órbita o tempo parece estagnado sem rebeliões ou surpresas, somente a tristeza e a utopia, pelo menos nestes últimos dias .
Há muito tempo atrás (eu espero; não mais) você estaria fragilmente, porém veemente, tentando repercutir o som de tua voz através de uma distância desesperadora para que em algum momento ela chegasse aos ouvidos dele, como a verdade do que as coisas são e não como a verdade que ele enxergara, pois temos o terrível vício de ver as coisas da maneira que somos, e não como elas realmente são. Ele está distante, em outro lugar e os homens não são de Marte e nem as mulheres de Vênus, como um HOMEM lhe escreveu certa vez num livro.
Assim com seu pensamento entrando em ressonância inútil, Vera, te fez chegar bem perto do desespero. Você, enquanto somente palavras e lembrança no teu peito, sem voz nem ilustração que te representasse aos olhos dele, enquanto distante não só geograficamente, sem presença de espírito, como falar-lhe? Mas a arte do desespero é o que fazes, é estar num campo de batalha sem arma alguma em prontidão para lutar, mas não ao ver dele (do homem voz no telefone, do homem e-mail ), que quer que você tente devolver-lhe até aquilo o que ele te tirou para tentar resgatá-lo do senso comum e ordinário, da solidão travestida de cotidiano, da felicidade embriagada, da mediocridade disfarçada de calmaria, da paixão e a compaixão disfarçados de amor em que ele caiu tentando para com outra pessoa para causar-te ciúmes. Não. Jamais. Ele já é passado a tanto tempo... Se ele perdeu a noção da hora, ora, que deixe em paz teu domingo!
Ah, você jura que você é o melhor pra ele Vera? Pois escuta: para ele é bom, paralelamente a ti, começar de novo entre outros, porque é fácil perceber que você tem muito mais defeitos que uma pessoa que ele mal conhece - isso se ele estivesse tentando te esquecer mas, como dificilmente seja este o caso já que ele é quem foi embora, é como começar uma nova partida de um jogo, com novos jogadores que não conhecem suas táticas de guerra nem os seus erros e paixões, nem seu fracasso iminente em certas coisas, nem o tamanho de seu orgulho, aquilo que conheciam tanto um no outro em sua convivência; mas somente a alegria frugal dos novos “jogadores” , que se soubessem tais coisas não jogariam com ele.
Inocência estúpida de ambas as partes.
Virtudes no amor são possíveis com maturidade de entendimentos. E nada é pior do que o abandono e, no entanto, aquilo que amadurece sofridamente, como um fruto que cai verde e amadurece ao pé da árvore, solitário fruto sem caule alimentador, torna-se insosso e fenece precocemente - este é o que espera aquele que se foi e não sabe se quer voltar.
Se há tempos você já não o espera, é que há tempos outro espera por ti, mas este terá enfim aquilo que espera.
Eu não me arriscaria de forma estúpida, nem deixaria de me arriscar por mero conforto, é que o que tenho em mãos é demasiado precioso. Há de se tomar cuidado com aquele que quer ser conquistado de novo, o vaidoso que sabe de sua doença nostálgica com ele.
Muito mais precioso do que aquilo que ele te trará como um tesouro reluzente, com grandes olhos entusiasmados, é a tua razão. Aos meus olhos, um presente roubado de outras paisagens, o aprendizado de outras bocas, de outros tantos erros dele, jóia de brilho fugaz capaz de seduzir um somente um desesperado.
Sê fruto da poeira estelar deste universo com veias e verve, sólida e com itinerário próprio ao seu livre arbítreo, pare de rodopiar como um satélite preso à órbita de outros mundos.
E de uma vez por todas, toma a tua coragem e diz-lhe, Vera:
“Toma-o, guarde-o para ti. Guarde-o para quando te encontrares em tua noite mais escura.
E vá-te embora de uma vez.”
Senão, Vera, vai ter dó de si mesma lá em Cassiopéia...

segunda-feira, 9 de março de 2009

Solidão


É sempre tão difícil ser importante.

Passamos a vida toda tentando importar, para alguém, alguma coisa, ou para nós mesmos.

Sabe o que importa, não importar importa!

Ninguém para enxugar uma lágrima, segurar a mão ou ouvir quando vociferamos que somos inúteis. Ninguém para dizer tudo bem, ninguém para dizer esquece, amanhã é outro dia.

Solidão não é um estado de espírito é um estado permanente, duradouro e sofrido.

Solidão não é algo que bate à sua porta é algo nunca bater... Solidão é assim, meio que sem rumo, sem jeito, sem chance.

Solidão é a desculpa para nunca mais sentir ou doer, gritar sem ser ouvido, chorar sem ser corrompido.

Solidão não mata, engorda! Solidão não se pede nem se esquece, solidão não puxa, arrasta e arrasa, solidão não é sentida, é vivida.

Perder não leva à solidão, querer leva. Solidão não se escolhe se é escolhido. Solidão é viver sem querer viver!

Solidão é sorrir sem jeito, mas sempre dar um jeito. Solidão não leva à loucura leva ao desespero.

Solidão não ensina, castiga, fustiga, instiga...

Solidão faz aflorar nosso lado perverso, malicioso, pernicioso, desperta o lobo chamado instinto, faz o santo de pecador e o pecador de santo.

Ela provoca, corrompe, deglute todos os princípios, afoga o erro e obscurece o juízo. Entorpece os sentimentos e aguça os sentidos. Te faz ter fome mesmo quando alimentado, sedento mesmo quando saciado, sombrio mesmo quando iluminado, louco, sem juízo, sem conseqüências, faminto por ter.

Solidão é meio que vida, meio que morte, meio que ter sem ter, meio que nunca tendo, quase sempre perdendo.

Ousados são os solitários, pois a vergonha não lhes acompanha, a sobriedade lhes abandona e o mundo os exclui.

Solitário, sou, sem vergonha, mais instintos que sentimentos, mais animal, mais eu, mais seu, muito mais meu!