terça-feira, 24 de março de 2009

E ela sentou e contemplou o seu fracasso


Estando em estado de mais absoluta tristeza e desesperança ela sentou-se em seu pequeno mundo e ponderou:

“Não tenho mais auto-estima, não tenho mais o básico da sobrevivência....

Não consigo me alimentar e por muito pouco me mantenho viva, parei de fumar e minha essência se acabou, recuperei o pouco que me resta de saúde e de vida e perdi o que me era de mais valioso, perdi minha identidade, morri para poder ressuscitar!”


Num suspiro dolorido e corrosivo ela continuou ali parada a prantear a sua dor:

“Quanto mais fico aqui, mais me sinto vilipendiada, mais meu tempo se esgota e menos amor sinto correr em minhas veias...

Será a idade que me faz esvair ou serão os anos dedicados a amores ingratos e a dores infindáveis que me fizeram sucumbir?”


Dessas idéias jogas ao léu, revelaram-se cada vez mais perguntas mordazes:


“Serei eu fraca? Ou serei forte demais para aceitar o fracasso de um coração falido? Mais uma vez errei? Ou será que nunca acertei? Perguntas demais, respostas? Nunca as terei!!!!! É um relacionamento falido? Serei eu o motivo da falência? Ou será meu coração rebelde que nunca aceitará um dono e morrerá solitário como os dias que me cercam?

Terei paz se não aceitar o meu cálice ou terei de bebê-lo até a última amarga gota?"



Sopesou por um momento e a batalha mental voltou a enlouquecê-la:


“A resposta parece tão improvável! Serei minha ou do mundo? Serei cruel ou só mundana? Farei aquilo que nunca fiz?

Quero ser livre!!!! A liberdade custa felicidade alheia?!?! Serei livre não respeitando meus princípios? Sou prisioneira deles? Ou sou eu porque os sigo?

Durmo ao teu lado porque me acostumei a ser menosprezada? Ou aqui fico por me sentir maior? Sou só eu ou tu realmente fazes falta?

Creio que eu me faço falta! Alguém sabe onde estou?

Como foi possível ser derrotada por mim?

Onde estarei? Me encontrarei amanhã?

Acho que vou sucumbir a um de meus pesadelos mais terríveis... serei para todo sempre eu!!!!!”


E num momento de estranha sobriedade ela grita para seu coração:

“Acho que estou doente... acho que dessa vez é pra sempre... acho que posso... eu sempre posso... me dá náuseas pensar em ti... mas hoje não vou vomitar... bebi ... quero ficar amortecida um tempo... posso esquecer... posso perdoar... mas não a mim....”


Então, sem mais e sem respostas, ela toma a saída dos infelizes e desiludidos, embebe-se do espírito de Cleópatra e parte para terras distantes.

3 comentários:

Unknown disse...

Texto belíssimo, apesar de bastante sombrio! Sombrio, porque retrata a desilusão e a dor que a maioria dos seres humanos enfrentam em determinado momento de suas vidas. As perguntas que volta e meia nos espreitam e atormentam, no afã de compreendermos as razões que nos trouxeram até a estrada que estamos agora. Como sempre, vc retrata, de forma majestosa, as angústias e dúvidas que nos consomem boa parte do tempo. Parábens por suas palavras, pela sua clareza de raciocínio e por ser a voz daqueles que não conseguem expressar tão bem o que sentem. Beijos!

no disse...

Nossa!
Desta vez você me pegou, Ana!
Enquanto eu lia ia refletindo sobre a sequência desnorteante das perguntas tentando, quem sabe, saber responder alguma delas. Falhei, tonta como um hipopótamo insone.
Creio que o centro da narrativa são as intempéries do amor e suas cicatrizes.
Personagem obscura e quase suicida deixa um gosto amargo na boca, dá vontade de fugir do mundo.
Cara, vou precisar matar um pote de sorvete ou uma caixa de chocolates...
A obra de arte é um verdadeiro enigma, a pirâmide me intrigou.
Parabéns pela combinação de texto e quadro, adoro!

DIM disse...

ATORMENTADOS POR PERGUNTAS CUJA AS RESPOSTAS NÃO VEM... A PERSONAGUEM E SUICIDA